domingo, 9 de dezembro de 2012


Tarja Preta

Letícia Isnard retoma parceria com Ivan Sugahara

Uma serial killer de neurônios. É assim que o cérebro da protagonista do espetáculo “Tarja Preta”, vivida por Letícia Isnard, descreve sua dona. Após conquistar o público da TV com a  Ivana da novela “Avenida Brasil”, a atriz volta ao teatro na pele de uma dependente em calmantes e antidepressivos que conversa sobre seus problemas com a própria consciência. Em cena, a personagem trava um diálogo inusitado com seu próprio cérebro, interpretado por Érico Brás, o Jurandir da série “Tapas & Beijos”. Em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal, no Rio de Janeiro, a peça aborda de forma bem-humorada uma grave tendência contemporânea: a medicalização das frustrações.
– A peça trata da “cultura da farmácia” que está se formando. Nela, as pessoas recorrem a medicamentos para tratar os sintomas de seus problemas e ignoram as causas. Conheço pessoas que vão ao psiquiatra, mas se recusam a frequentar um psicólogo. Acho que não temos dado tempo às questões mais profundas que nos afligem. Vivemos uma pressão para sermos felizes quando, na verdade, passamos por frustrações todos os dias – observa Letícia, que concebeu o projeto ao lado de Ivan Sugahara, diretor de “Tarja Preta” e seu parceiro de longa data na companhia Os Dezequilibrados.
O espetáculo é uma adaptação do texto “Serial Killer”, escrito pela roteirista Adriana Falcão para o livro “Tarja Preta”, que reúne histórias divertidas de viciados em remédios. O tratamento dado a esta aparente oposição entre o humor e um assunto sério foi um dos pontos nevrálgicos sobre os quais Letícia e Ivan se debruçaram. Algumas decisões, porém, só serão tomadas a partir da recepção do público.
– Existe esse lugar do tragicômico, ou seja, de questões que chegam a ser patéticas de tão trágicas e, por isso, nos fazer rir. O espetáculo está situado aí.  Mas ainda estamos nos perguntando que peso daremos ao final da trama –  conta a atriz, que espera que a exposição gerada pelo sucesso de “Avenida Brasil” contribua com o espetáculo.
Outra questão enfrentada pela atriz foi a preparação para as muitas cenas em que a personagem deixa transparecer os efeitos dos remédios. Letícia conta que teve a curiosidade de experimentar algumas deles, mas que, devido a problemas de coluna e de alergia, acabou optando pela leitura dos efeitos colaterais nas bulas, bem como pela observação de amigas que consomem tais comprimidos.
– Dá para perceber a mudança de comportamento apesar de o efeito ser mais sutil que o de drogas como a maconha, o álcool e a cocaína. Fiquei preocupada também com a possibilidade de experimentar e perder a capacidade de avaliar com precisão o efeito que aquilo faria em mim. A avaliação do ponto de vista de quem ingeriu a droga poderia tornar a interpretação caricata– conclui Letícia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário